Conversão: o que é e como viver?

“Assim, pois, casa de Israel, é segundo o vosso próprio proceder que julgarei cada um de vós. Convertei-vos! Renunciai a todas as vossas faltas! Que não haja mais em vós o mal que vos faça cair. Repeli para longe de vós todas as vossas culpas, para criardes em vós um coração novo e um novo espírito. Por que havereis de morrer, israelitas? Não sinto prazer com a morte de quem quer que seja. Convertei-vos e vivereis!” (Ez 18, 30-32).

Conversão: o que é?

Segundo o dicionário, converter significa: “Conduzir à religião que se julga ser a verdadeira; fazer mudar de partido, de parecer, de modo de vida; transformar-se, mudar-se; mudar de religião, opinião.”

Segundo a tradição cristã, conversão significa dar as costas para a vida de pecado e toda alienação por ela provocada e, voltar-se para uma vida mais devota.

Contudo, abandonar o pecado vai muito além de uma simples mudança externa de atitude. Trata-se de um processo de mudança radical que abrange todas as áreas da vida do indivíduo. Em referência a esse processo, a Escritura usa o termo grego metanóia, para indicar a mudança da mente e do coração pela qual a pessoa se afasta do pecado e volta-se para Deus.

O dicionário da língua portuguesa aponta que metanóia é: “Transformação de comportamento ou caráter, mudança de pensar e sentir, no caminho da perfeição, conversão interior.”

Primeira e Segunda Conversão

O conceito de conversão nos leva a entender dois momentos distintos: um que se dá em uma ocasião particular da vida do indivíduo. O Catecismo da Igreja Católica vai chamar de conversão batismal, sendo o batismo “o principal lugar da primeira e fundamental conversão” (CIC 1427).

O segundo trata-se de um processo que dura a vida toda, ao qual o Catecismo vai chamar de conversão do coração.

Algumas das características dessa primeira conversão são os sinais externos. Exemplos: o pudor na escolha das próprias roupas; a renúncia a palavras desnecessárias ou não edificantes: palavrões, mentiras, ofensas, fofocas.

Na pregação da Igreja, o apelo à conversão é feito em primeiro lugar aos que ainda não conhecem a Cristo e seu evangelho. Ora, o apelo de Cristo a conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda Igreja, que reúne em seu próprio seio os pecadores, que é ao mesmo tempo santa e necessitada de purificação, buscando sem cessar a penitência e a renovação (LG 8).

Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana, é o movimento do coração contrito (Sl 51,19) a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro (CIC 1429).

Dizia Santo Ambrósio: “Existem a água e as lágrimas: a água do batismo e as lágrimas da penitência.”

Conversão do coração

Trata-se de um retorno radical e decisivo para Deus, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância às más obras que se comete.  Uma mudança que começa de dentro para fora.

O apelo à conversão da Sagrada Escritura, tanto pelos profetas no Antigo Testamento, como se vê em Joel 2,13: “Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes; voltai ao Senhor, vosso Deus.”; como o de Jesus, no Novo Testamento, como se vê em Marcos 1, 15: “Completou-se o tempo: Convertei-vos e crede no evangelho”, não visa em primeiro lugar as obras exteriores, “o saco e a cinza”, os jejuns e as mortificações, mas sim a conversão do coração, a penitência interior. Portanto, a Escritura deixa claro que sem esta segunda conversão, as obras externas de penitência são estéreis e enganadoras.

São Francisco de Sales, em seu livro Filotéia, diz que quando se fala de conversão verdadeira as “aparências enganam”:

“Quem é dado ao jejum tem-se na conta de um homem devoto, quando é assíduo em jejuar, embora fomente em seu coração um ódio oculto; e, ao passo que não ousa umedecer a língua com umas gotas de vinho ou mesmo com um pouco de água, receoso de não observar a virtude da temperança, não se faz escrúpulos de sorver em largos haustos tudo o que lhe insinuam a murmuração e a calúnia, insaciável do sangue do próximo.

Uma mulher que recita diariamente um acervo de oração se considerará devota, por causa destes exercícios, ainda que, fora deles, tanto em casa como alhures, desmande a língua em palavras coléricas, arrogantes e injuriosas… Todas estas pessoas têm-se por muito devotas e são talvez tidas no mundo por tais, conquanto realmente de modo algum o sejam!

 Essas pessoas não estão definitivamente convertidas, mas, como foi dito, estão no processo da conversão.

“A conversão a Cristo, o novo nascimento pelo batismo, o dom do Espírito Santo, o Corpo e o Sangue de Cristo recebidos como alimento nos tornaram santos e irrepreensíveis diante dele. Entretanto, a nova vida recebida na iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação ao pecado, que  a tradição chama de concupiscência, que continua nos batizados dá para prevê-los no combate da vida cristã, auxiliados pela  graça de Cristo. É o combate da conversão para chegar a santidade e a vida eterna, para a qual somos incessantemente chamados pelo Senhor” (CIC 1426).

Conversão como requisito essencial para o seguimento de Cristo

A conversão é um dos requisitos fundamentais para o discipulado cristão. O Novo Testamento, de maneira especial, nos apresenta a conversão como característica essencial do discípulo, ou seja, aquele que segue Jesus. Por exemplo: no evangelho de São Mateus a conversão não implica somente a uma mudança de comportamento, com os frutos das boas obras. Esse evangelho desenvolve esse tema no sermão da montanha e na analogia da árvore que produz bons frutos (Mt 5-7; 7,16-20).

“Neste sermão, Jesus insiste na conversão verdadeira: a reconciliação com o irmão antes de apresentar uma oferenda no altar, o amor aos inimigos e a oração pelos perseguidores, a oração ao Pai em segredo (Mt 6,6 ), a não multiplicação das palavras, o perdão do fundo do coração na oração, a pureza do coração e a busca do Reino” (CIC 2608).

Do mesmo modo, o evangelho de Lucas relaciona a conversão com a reconciliação que Deus estende aos pecadores. Essa ideia é especialmente visível nas parábolas do capítulo 15, das quais a mais famosa é a do filho pródigo (Lc 15, 11-32). Dessa forma, o filho perdido é reencontrado e se reconcilia com o Pai, cuja misericórdia se estende a todos os que pretendem mudar de vida, converter-se radicalmente e abraçar a vida de discípulo.

Assim, a Escritura deixa claro que não existe seguimento verdadeiro de Jesus se não houver uma decisão de romper com o pecado. Tanto de maneira externa como com aquele pecado mais escondido no nosso interior.

Portanto, a conversão é uma profunda mudança de vida, que como processo dura toda a nossa vida, sendo necessário e fundamental para um verdadeiro seguimento a Cristo.

 

Diácono Mário Antônio Caterina

Membro de Aliança

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